A Fada Palavrinha e o Gigante das Bibliotecas
1-Era uma vez uma vez um rei 2-Uma fortuna guardada
Que tinha enorme tesouro: merecia aplicação
Esmeraldas, diamantes Ali, fechada num cofre,
E muitas moedas de ouro. Ainda chamava um ladrão.
Perguntou ele ao serão. - Podias comprar para mim
- Antes de me decidir um palácio com dez torres
Quero a vossa opinião. E telhado de marfim.
5- A princesa sua filha 6– E o príncipe real
Lhe falou desta maneira: não se conseguiu conter:
- Quero mil metros de sedas - Ó meu pai, dê-me um batalhão,
Para levar à costureira. Que eu gosto de combater.
7– O rei franziu o nariz, 8– Ergueu um grande edifício,
Não ficou nada contente. Forrou-o todo com estantes
Ele tinha outra ideia mandou vir imensos livros
Há tempos na sua mente. No dorso de elefantes.
9-Vieram livros de barco, 10- - Que lembrança tão maluca,
De cavalo, de camelo, que não lembra a um careca,
Das terras quentes com sol, ir gastar tanto dinheiro
Das terras frias com gelo. Assim, numa biblioteca!
11- Isto dizia a família 12– O rei não quis dar ouvidos
E diziam os vassalos. A gente tão ignorante,
- Ficar sentadinho a ler tinha gosto de aprender
No rabo até faz calos. Como se fosse um estudante.
13– Na nova biblioteca 14– Cheio de curiosidade,
Ganhou tal sabedoria o povo desse país
Que melhor rei neste mundo quis todo aprender a ler
Aposto que não havia. Para lá meter o nariz.
15– Leu os livros de aventuras, 16– Na biblioteca estudou,
De ciências naturais, nela se fartou de rir,
Os de banda desenhada, porque os livros também servem,
E ainda leu muitos mais. Afinal, para divertir.
17– Mas o pior foi que as traças, 18- - Aqui é que se está bem!-
Ao verem tal corrupio, disseram todos em coro.
Entraram na biblioteca - Vamos comer os livrinhos
Num dia cinzento e frio. encadernados em couro.
19-Encheram bem a barriga 20– O rei, ao ver os insectos
Roendo aqui, além. Por toda a sala a voarem,
Um banquete de papel mandou vir vinte soldados
É mesmo o que lhes convém. Armados para os matarem.
21– Os tiros não acertaram 22– Sete sábios prepararam
Em bichos tão pequeninos terrível insecticida.
Que comiam dicionários Os leitores da biblioteca
E livros para meninos. Quase iam perdendo a vida.
23– Mas as traças resistiram. 24– Quando a noite desceu
Ainda roeram mais apareceu um gigante
Os livros aos quadradinhos, com longas asas, que vinha
As revistas, os jornais. De uma gruta distante.
25- Ai!- gritou a multidão, 26– Vens também comer os livros?
Que não tinha mais sossego. Perguntou, aflito, o rei.
- Este medonho gigante - Se vieres com tal tenção
Parece mesmo um morcego Já aqui te prenderei.
27- - Não, eu venho, majestade, 28– Logo então foi contratado
Apenas pedir emprego. O simpático gigante
Comer traças é trabalho e desatou a limpar
Ideal para um morcego. Os bichos de cada estante.
29– Julgava já ter comido 30– Em vez de trincar as folhas
Todas as traças, um dia, ela estava a devorar
Quando viu uma tracinha o livro com os seus olhos.
Num livro de poesia. Não conseguia parar.
31— Mas quem és tu borboleta?- 32- - Ao agitar sobre os livros
Perguntou ele, intrigado. A varinha de condão,
- Sou a Fada Palavrinha ponho todos a pensar
Que vivo aqui ao teu lado. E a ter imaginação.
33- - Sobre as crianças eu deito 34– O gigante arregalou
Uns pós de perlimpimpim os olhos com grande espanto
Para descobrirem que ler e levou-a até ao rei
É uma aventura sem fim. Que estava de coroa e manto.
35– Encantado, o soberano 36– Ficaram então os dois
Lhe pediu para ficar a cuidar da biblioteca.
A ajudar o bom gigante, Enquanto ela faz magias
Para ele poder descansar. Ele faz uma soneca.
37– Depois acorda à noitinha 38– Graças à fada, ao gigante
Para caçar os insectos é mesmo uma loucura
Que destroem belos livros ver tanta gente feliz
E tantos outros objectos. Presa à sua leitura.
39– Já deixaram de dizer VITÓRIA, VITÓRIA
Uns ignorantes vassalos ACABOU _ SE A HISTÓRIA.
Que estar sentadinho a ler
No rabo até faz calos.
Texto- Luísa Ducla Soares
Ilustrações– Maria João Raimundo
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